.defenestrado.
Sobre defenestrar- jogar coisas na janela- defenestrações de desabafos, vontades, devaneios...
sábado, junho 16
madrugada
segunda-feira, dezembro 5
sobre emendas
É na madrugada que as cores vivas dão lugar a uma paleta de cinzas, e talvez seja o cinza que provoca o medo e guardam os tantos habitantes em casa, como se guardam objetos em gavetas. E então, é nesse momento que as linhas físicas que compõe a cidade se expõem de forma vulnerável e sem pudor. Os fluxos, desenhados por uma vida que habita, se transformam de acordo com a altura do sol e, quando esse desaparece o ritmo é outro, a cidade parece lenta, mas trata-se de uma lentidão que enfatiza uma intensidade. E nessas horas as relações do que é pele com concreto parecem mais fortes, numa sinergia que só a vulnerabilidade de todos os lados, pode permitir/obrigar. Mesmo que não existam lados.
Percorre-se essa cidade nessa madrugada com um corpo de bicicleta, do lado esquerdo toda a ilha de Vitória, do lado direito a baía de Vitória se alternando com construções que subverteram a desordem e deram as costas ao mar. E nesse caminho, a cidade se apresenta como uma seqüência de fragmentos. Cenas de um sábado afoito, em que cada fragmento guarda em si uma cidade e se guarda no corpo com imagens, cheiros, sensações. São fragmentos diversos, como crianças que moram nas ruínas do que sobrou daquele outro dia, que se abrigam dos restos do tempo, do espaço, das frestas do que o sistema lhe permitiu. Uma multidão saindo do show no Álvares, onde as singularidades por um minuto desaparecem e dão lugar a um desejo mútuo de compartilhar um mesmo som. É aquele banho de mar debaixo daquela ponte gigante, num dos visuais mais marcantes de Vitória, que consegue reunir num mesmo ponto o macro daquela construção com o micro do corpo que mais suscetível à noite, se banha correndo. Na seqüência dessa cena que é a cidade, do inverso ao verso, vem um monte de material empilhado, que parece um disco voador que acabou de chegar à ilha com promessas de um mundo melhor. Entenda como shopping Vitória, numa negação absurda dos fragmentos que fazem parte do contexto. E ainda esse que é composto por locais singulares e carregados de significados, tal como a curva da Jurema, numa cena próxima de bêbados e mendigos que antes se misturavam a população praiana, do forró do quiosque e do karaokê, mas que agora sobram das gavetas. Já bem na frente desse percurso, a cena é bastante diferente, uma multidão de adolescentes bebendo num posto e saindo de mais um show. Uma massa de gente de roupas apertadas e carros num padrão que faz parte de outro contexto que essa cidade suporta, mas parece outro mundo. Um dos últimos fragmentos do percurso e uma das imagens mais lindas, era um pescador passando debaixo da ponte de Camburi, sozinho, de branco, e em pé no barco contemplando uma imensidão que para ele é muito mais que paisagem.
Os fragmentos que essa noite apresenta são combinações de fluxos, corpos imergindo em séculos de camadas no território, onde várias épocas se embrenharam e deixaram seus registros, são minúcias num diário chamado Vitória. O corpo permeia os espaços, como os olhos permeiam um texto a ser lido. Ocupam os interstícios das camadas e do tempo e emenda os fragmentos, um a um, de uma forma sutil, mas que costurando também deixa seus rastros. O corpo permeia, se dilui e costura, camada por camada, fragmento por fragmento, e cria em si, a sua cidade.
sexta-feira, novembro 4
fragmentos
com uma dor necessária, mais leve.
Em mim, "mim" como uma alma diluída em corpo, você não toca mais.
Não enquanto eu penso, não enquanto eu existo Samira.
Te tirei daqui, arranquei a força pela raíz.
Mas isso não significa que eu controle os fragmentos que me compõe.
Não impede que a minha inconciência te busque escondida em sonhos.
Que a minha alma te procure sozinha pelas ruas em madrugadas frias,
deixando como pista da ausência, apenas um vácuo no estômago.
ou então que a minha pele tenha se encontrado na sua, e te peça,
célula por célula, de uma forma involuntaria e indelével,
de uma natureza, e de um física, que vai além da vida que ela abriga, agora.
segunda-feira, agosto 1
Cabe em mim
rasgo o espaço
recolho
esvaio
me moldo.
Cabe em mim esses atos
desato em rastros
Me reinvento com o toque
Transformo.
quinta-feira, maio 26
sobre o peso
quinta-feira, maio 19
Sobre o caso de Aracruz
Spray de pimenta em olho de criança, bomba de efeito moral, 130 homes do batalhão de missões especiais, cães farejadores, tiro, trator, tropa de choque... Gente! isso é vocabulário de guerra. E as cenas disso são as mais assustadoras possíveis. Sabem esses filmes que retratavam dominação de um povo sobre outro? Que a gente se choca, desliga a TV e vai dormir? Pois é, lembra muito, e dessa vez (como várias outras) é real. E bem do nosso lado.
Não tenho a menor vergonha de dizer que eu chorei quando soube disso, mas o que adianta chorar? Vergonha eu tenho de ter a minha casa, de está no meu computador, lendo besteira no facebook, preocupada com sei lá o que, mas que só diz respeito ao meu umbigo. E enquanto isso, mais de mil pessoas estão nas ruas com as suas crianças, sem direito ao mínimo que alguém precisa para viver, não disse sobreviver. Se bem que também caberia aqui. Sem direito ao mínimo que alguém precisa para sobreviver.
Vergonha eu tenho em dizer que agora eu me revolto, mas daqui a uma semana, provavelmente vai ter passado, já que sou cria de um sistema que tem como maior objetivo me anestesiar, e assim me enche de informação, me dá porrada atrás de porrada, até que não doa mais, me faz acreditar em outras coisas, me tira toda a ânsia de lutar, e ainda quer me consolar com arte medíocre e com brinquedos novos.
Vergonha eu ainda tenho em dizer que eu faço um curso de arquitetura e urbanismo, numa universidade federal, onde as pessoas deveriam estar discutindo cidade, e lutando por uma melhor, mas estão mais preocupadas com trote em calouro, ou com o seu diploma e seu escritório que vai apenas reproduzir uma ‘arquitetura’ de mercado. E sim! Eu faço parte disso. Por mais que não queira.
E sério! Se até o que se considera a ‘elite intelectual do estado’ -que é quem tem o privilégio de ter um curso superior, e um conhecimento maior sobre a situação, não consegue mais reagir frente a docilização do seus corpos, o que esperar da outra parte da população?
O que tá acontecendo em Aracruz é só mais um exemplo, assim como as remoções das comunidades do Rio. São exemplos de como o interesse financeiro e o estado podem ser ditadores, desumanos, defendendo interesses de uma minoria. E assim investem um monte em armamento pesado, em evento de gringo, em detrimento de uma cidade justa com habitação e um mínimo de dignidade para os seus moradores.
E aí eu te pergunto: Quanto vale?
Quanto vale hoje sua vida? Quanto vale o seu acordar e o teu bom dia? Quanto vale a mesa que você divide com tua mãe no almoço de domingo? Quanto vale aquele quadro (presente) que fica na tua sala? Quanto vale as lembranças ganhadas do filho? E a tua roupa preferida? Quanto vale as tuas paredes, o teu teto, o teu chão? Quanto vale a tua rua? E os amigos das crianças que moram do lado? Quanto vale construir teu teto com as mãos? Quanto vale o humano? Ser humano? Quanto vale a tua dignidade? O teu trabalho? Quanto?
Hoje é só essa pergunta que importa. ‘Quanto?’.
E por fim, digo como a maior parte do mundo, eu vou desligar meu computador, como alguém desliga a TV depois de um filme de guerra, e vou dormir longe do frio, da chuva, e amanha vou acordar e continuar fazendo parte de uma massa apática que acha que isso ‘não é problema meu’.
domingo, abril 17
.
sobre cascas
segunda-feira, março 21
sobre costuras
terça-feira, março 15
Recife
Recife pulsa alto sua história e sua cultura, mas de uma forma que pulsa nela para ela mesma, sem querer sem espetáculo e nem resistência. Recife simplesmente se vive, mas de uma forma verdadeira de gente que se identifica com o seu lugar, gente que é o seu lugar. Gente que colore forte com unhas, dentes e música a sua cidade.
sábado, fevereiro 12
ciranda de pássaros
quarta-feira, fevereiro 2
2 de fevereiro
quarta-feira, janeiro 26
Célula
pinça
Ausência
terça-feira, janeiro 18
forte
quinta-feira, janeiro 13
A flor da pele
quarta-feira, janeiro 12
sexta-feira, janeiro 7
esse dia
quinta-feira, janeiro 6
Livro do desassossego.
"Tudo me interessa e nada me prende. Atendo a tudo sonhando sempre; fixo os mínimos
gestos faciais de com quem falo, recolho as entoações milimétricas dos seus dizeres expressos; mas ao ouvi-lo, não o escuto, estou pensando noutra coisa, e o que menos colhi da conversa foi a noção do que nela se disse, da minha parte ou da parte de com quem falei. Assim, muitas vezes, repito a alguém o que já lhe repeti, pergunto-lhe de novo aquilo a que ele já me respondeu; mas posso descrever, em quatro palavras fotográficas, o semblante muscular com que ele disse o que me não lembra, ou a inclinação de ouvir com os olhos com que recebeu a narrativa que me não recordava ter-lhe feito. Sou dois, e ambos têm a distância - irmãos siameses que não estão pegados."
perspectivas
vi o asfalto se dobrar e criar ondulações que a física nem acreditaria.
vi as profundidades urbanas que meus passos conheciam tão bem,
dançarem sob os meus pés.
vi a escada, conhecida pelos meus movimentos na sua intimidade,
se entortar de quase romper.
E na noite, tudo ganhou perspectivas agudas.
Tropecei!
Vi teu rosto nítido e essas letras infinitamente pretas no branco.
Vi uma paisagem agora emoldurada no rosto.
Rá! primeiro dia de óculos e eu mais perdida.
domingo, dezembro 26
de terra e nuvem
Meu pai me criou como em trilha de chão de terra batida, debaixo do sol quente, me mandando escalar a terra seca, a pular os abismos com olhos abertos, sem perder de vista o fundo. Como bom pai, me deu um cantil cheio de água, uma corda, e me ensinou a usar o facão para abrir a estrada. Ficou de longe, exigindo que a estrada fosse perfeitamente trilhada, que os obstáculos virassem lindas esculturas, e que eu jamais reclamasse dos percalços, e não, eu não tinha de forma alguma, o direito de cair. Das trilhas, de longe eu o via, me estruturando, mas com cara endurecida de exigência, com braços cruzados, me fazendo forte, camuflando um coração que pulsa roxo na mão.
Já minha mãe é nuvem, me acompanha na estrada, faz chover quando faz muito calor, abre o sol para secar lágrimas e relampeja muito bem quando alguém se faz armadilha. Essa me deu cobertor para me aconchegar no caminho, muita comida para não perder as forças e principalmente para dividir com quem fosse preciso, além de palavras para acalmar. E fica ali em cima, pairando pertinho, sente mais do que eu, as minhas alegrias e tristezas. E por isso aprendi a fazer cara de gente de pedra, como a do meu pai, para que não sofra mais do que eu as minhas agonias. Preservo-lhe de suas tempestades incontroláveis, e protejo o mundo de seus raios. Tento fazer com que sinta só as alegrias, para que seu coração e o clima sejam de brisa.
Terra batida e nuvem fazem parte do que eu sou, num contraste que gera movimento e que me leva para frente, como positivo e negativo, ar quente e ar frio, num equilíbrio que só quem vive pela gente é capaz de passar. Sou de afeto escondido em força, duro como sol escaldante, indefinido como o escuro. Mas também sou força caminhando na corda instável do afeto, pé na frente do outro pé, frio no andar, mas intenso como olho de criança. Numa sintonia desafinada e que as vezes caí do alto e dói, mas com esboço de sorriso fincado, esculpido na terra batida, treinado para ser leve como nuvem branca.
Que venha mais um ano.
quarta-feira, dezembro 22
...
psiu.
sábado, dezembro 11
noite sem sono
quinta-feira, dezembro 9
Para Yan
terça-feira, dezembro 7
libra
Cabeça a explodir, e talvez essa seja uma virtualidade disfarçada de real,
Fatalidades, futilidades. Tudo nesse instante, tudo grande, maior da vida.
Tenho uma personalidade encravada nessa palavra dita libriana.
Sim! Meu mal é o dia em que eu nasci- prematura de um acaso tramado- um rótulo que já me deram antes do início de existir. Talvez o primeiro deles, antes mesmo de saberem que eu era mulher. Antes mesmo de saber que eu era Proêza, Samira Proêza.
Ainda guardo a dúvida se são mesmo os astros que interferem nisso tudo, ou se eu me fiz isso, me justificando nessa coisa balança.
Que óbvio, que de balanceado não tem nada.
Mas enfim, me fiz mulher, e pior, mulher libriana, e das boas.
Sendo assim, guardo em mim todas as indecisões do mundo, e vou me atropelando, te atropelando, tudo isso por uma covardia/preguiça de decidir absurda, e num desespero/impulso não decido, faço e só.
As poucas decisões que consigo ter, são como peças raras, guardo num tesouro com chave jogada fora, e isso faz de mim teimosa de inicio meio e fim. Teimosa e decidida e me atropelo/ te atropelo, no apego dessas coisinhas/ verdades que consigo na vida, e que junto com meus impulsos me tornam o que eu sou.
Tenho carências de pele e de alma, mas preciso ser sozinha, me sufoco como quem parece que se prende, falta ar, falta sempre ar, e assim me engano/te engano num receio de quem ainda não aprendeu a dizer não.
Fiz-me em gestos exagerados, pegadas no cabelo, conversas de ouvido, e aprendi tarde demais, que não se pode ser assim, mas também aprendi que jeito não se poda, se reconstrói, e isso compõe o que hoje eu sou. E talvez eu seja sim dessas. Sabe? Dessas que parecem sempre se sentir, mas no meu caso acho que é só sentir mesmo, sem o se.
Sigo como bíblia o tal verbo amo, e amo muito mesmo, e desesperadamente, amo instantes de vida, barulhos, fragmentos de cidade, sombras, versos, pessoas, sou capaz de mal te conhecer e de alguma forma já te amar, a ponto de está aqui, escrevendo essas zilhões de palavras numa tentativa falha (eu sei) de me justificar.
Esvair, encher e ser sensível/ exagerada /dramática. Às vezes parece que essa coisa de libra não cabe aqui, o suporte é fraco. E pior que eu sei que sou insuportável, que fique bem claro. Assim, posso de forma egoísta, querer que se faça meu suporte. E aí também verás que sou insuportável
Mal te conheço.
Mas me desculpe ou não, agora tanto faz.
domingo, novembro 21
In-significâncias
segunda-feira, novembro 15
Lispector
Noite de Fevereiro
"Juro, acredita em mim - a sala de visitas estava escura - mas a música chamou para o centro da sala - a sala se escureceu toda dentro da escuridão - eu estava nas trevas - senti que por mais escura a sala era clara - agasalhei-me no medo - como já me agasalhei de ti em ti mesmo - que foi que encontrei? - nada senão que a sala escura enchia-se da claridade que se adivinha no mais escuro - e que eu tremia no centro dessa difícil luz - acredita em mim embora eu não possa explicar - houve alguma coisa perfeita e graciosa - como se eu nunca tivesse visto uma flor - ou como se eu fosse a flor - e houvesse uma abelha - uma abelha gelada de pavor - diante da irrespirável graça dessa luz das trevas que é uma flor - e a flor estava gelada de pavor diante da abelha que era muito doce - acredita em mim que também não creio - que também não sei o que poderia uma abelha viva de pavor querer na escura vida de uma flor - mas crê em mim - a sala estava cheia de um sorriso penetrante - um rito fatal se cumpria - e o que se chama de pavor não é pavor - é a brancura subindo das trevas - não ficou nenhuma prova - nada te posso garantir - eu sou a única prova de mim." (CL)
domingo, novembro 7
vento
de sentir forte
de fazer redemoinhos
de me embrenhar em frestas
de balançar com parangolés
e de deixar descabelos no ar
cadê pé?
domingo, outubro 17
mês das flores
e com as duas mãos,
assim, como quem tenta segurar o vento,
como quem tenta pegar um punhado de areia
Parei de tentar e peguei, prendi na mão em forma de cuia
e to segurando forte
andando com as mãos fechadas,
equilibrando o vento, guardando com jeitinho
de passo em passo
como quem aprende uma nova dança.
As mãos ocupadas pararam de ser perdidas
procurando qualquer coisa
e paradinha com cautela, só me restou observar em volta.
Me surpreendi com a quantidade de vento,
que agora mal cabe nas minhas mãos de gente pequena,
e me surpreendi com a quantidade de mãos que tinham ali
de todas as formas, cores, sabores.
Todas em forma de cuia, equilibrando forte
ajudando a dançar.
Obrigada pessoinhas lindas,
que fazem/fizeram parte de mim.
Outubro é mês de flores em toda cidade
e hoje é meu aniversário.
Feliz da vida!
segunda-feira, setembro 27
Caeiro
To numa fase Caeiro, na verdade acho que é mais que fase,
tenho que ler todos os dias ao menos um poema.
como pode dizer tanto e de maneira simples tão simples?
É lindo demais.
Tomo a Infelicidade com a Felicidade
"Se eu pudesse trincar a terra toda
E sentir-lhe um paladar,
Seria mais feliz um momento ...
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural...
Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se.
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva ...
O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica...
Assim é e assim seja ...
domingo, setembro 19
a razão/ arrazão/ azar ão
Prendia a energia, pesava
Argumentava que fazia tudo em torno de uma razão
Ah! Quanta razão
Se fechava em escamas, couraças com ferro
Se enganava, mas podia, era com razão
Prendia o choro, jogava fora sentimentos que não prestam
Amor não é razão
Se iludia
Razão não permite elos
Se justificava com auto-suficiência
Se apegava numa existência frívola,
Sabia, mas tinha razão
Passava de boca em boca, copo em copo
Preenchia o dia com tentativas
Sabia ser vazio com capa dura
Sabia que para ele aquilo era errado
Mas era errado com razão
Anestesiado, blindado
Feito de fases e relações passageiras
Essas coisas que não contrariam sua razão
E tinha toda a razão do mundo
Mas do mundo,
Só tinha a razão
quinta-feira, agosto 26
Quando o dia vira poesia
Gosto as vezes de me colocar em outro plano, ser invisível e só observar.
E assim foi meu dia, ônibus e mais ônibus.
Acordei pegando de Jardim Camburi para Jardim da Penha, bonito passar na praia de manhã e ver a galera correndo. Pensei: "Um dia eu ainda vou ser assim." Eu sei que talvez nunca consiga, invejinha boa. Queria gostar de acordar cedo, mas para isso vou precisar de umas 3 vidas para acertar. Essa não vai dar tempo, tenho certeza.
O segundo foi de Jardim da Penha para rodoviária. Sentei na frente, com preguicinha de passar roleta com malas. E vi um menino tão lindo, deveria ter uns 7 anos, mas a forma adulta que ele cuidava da vó dele me surpreendeu, pagou ao trocador, conversou que ia ficar na frente para cuidar da vó, e lá ficou abraçado, perguntando se tava tudo bem, pegando na mão dela para descer do ônibus.
Fiquei observando o trocador, para ver se ele ia girar a roleta, ou ficar com o dinheiro. Quis que ele ficasse, achei que faria mais diferença no bolso dele, do que da empresa do ônibus. Mas assim que o menino desceu do ônibus, ele girou a roleta. Num sei porque, não deveria, mas achei triste.
Fiquei uns 20 minutos na rodoviária atoa. Tinha um doidinho fazendo malabarismo para ele mesmo de público, ele se divertia tanto jogando as bolinhas para todos os lados.
Senti pena, mas é coisa da minha cabeça condicionada. Olha só, já escrevi doidinho lá em cima. Doidinho eu ou ele?
Enquanto isso, distraída que eu tava olhando.
Vem uma criança e me dá uma tapa na cabeça. Olhei para trás, e ele tava com aquela cara mais porca do mundo rindo e a mãe dele pedindo desculpas para mim. E que criança com olhos lindos. Me deu vontade ter olhos lindos e felizes assim no meu dia- a-dia. Essas coisas não tem como descrever, limpam a alma.
Entrei no pretti (ônibus para Santa Maria), dormi com aquele toque de celular, que as pessoas acham que a gente é obrigado a achar ótimo. Parece que o mundo tem o mesmo gosto musical. Me senti esgoísta, coloquei os pés para cima e dormi. Nem sei se alguém precisou de lugar. Mas me senti bem, quando olhava a paisagem, entre os apagões.
Chegando na rodoviária de Santa Maria, precisei de ligar para meu pai me buscar, e tava sem celular, pedi uma senhora, com a maior cara de pau, para me emprestar.
Tentei ligar a cobrar e não consegui, ela mandou eu ligar normal e disse para eu ir andando com ela até o onibus, já que ela tava atrasada.
Falei com meu pai, entreguei e agradeci.
E ela me surpreendeu falando que era um prazer me emprestar o celular. Que ela tinha gostado de mim.
Me senti muito bem, acho que desacostumei com a gentileza das pessoas, achei que ninguém mais sentia prazer em emprestar coisas.
Fiquei feliz. Muito feliz. De ainda conseguir vêr isso.
Mas enfim... fui para Santa Tereza, tive alta e ganhei meu pé para mim de novo (mas isso é outro post) lanchei bonitinho com meu pai.
E fiquei pensando como é bonita essa rede personagens urbanos. De pessoas que nem se conhecem, mas constroem juntos cidades, que se relacionam, que fazem parte,
que se ajudam, mesmo sem saber. Até mesmo com um olhar.
me senti bem, de fazer parte disso, e deu vontade conhecer mais. Quis saber de onde vem essas pessoas, o que fazem. E como participam dessa rede.
Será que cada nó é um encontro? Será que a gente guarda mesmo sem saber, um pouquinho de cada um na gente? Será que como somos todos? onde em mim ficou o menino com sua vó, o malabarista, ou a senhora do celular?
Alguém já disse que a vida é a arte do encontro. Eu acredito. E acho que a gente é feito de olhares, de lições diárias, de personagens urbanos.
Mas aonde? Será que mesmo esquecendo disso, vai ficar em mim?
Desculpa o post prolixo, precisava de registrar aqui. Medo de esquecer e tentativa de entender. Talvez daqui algum tempo eu ache essas coisas todas.
sábado, agosto 21
dedinho
Enfiar garganta abaixo esses pingos nos is.
É, em você mesmo!
Psiu! Não adianta olhar para o lado, fingir que tá tudo certo.
Até agora você ignorou os gritos da janela, das folhas, do vento.
Saiu de fininho da parede que te jogaram tantas vozes, olhos e bocas
Num me venha com essa, de que daqui a pouco passa, a vida volta.
Aliás! Quem você acha que é para tirar férias do mundo?
Vê se por um acaso, a noite falta o expediente algum dia?
Se toca garota, tá se achando demais!
Tenho maior pena de você!
Sim, dedinho na cara é pouco para ti, de burra que você é.
Quantos Caeiros você vai precisar de ler,
Para ver que a vida não é retardada assim?
Quantas porradas, palavrões, empurrões,
Você vai precisar de tomar para sair desse espasmo?
Acho que você já ta bem grandinha para ouvir,
dessa forma tão óbvia, que o mundo não pára
Quantos ossos quebrados
Você vai precisar para descobrir o que você é?
Prrr. Você ainda tá de mimimi?
Ai.... que não conseque fazer isso e aquilo.
Minha filha, ensinar batendo não dá mais.
Reage, engole esse choro, levanta essa cabeça, bagunça o cabelo.
Recolhe os seus fragmentos juntados em 24 anos,
e dá uma função decente para isso.
Porque sério, se isso tudo não servir para nada agora.
Se mata...
Ah! Você acha que eu to sendo dura com você?
Ai sério! Olha para ti, e se ainda não tiver vergonha,
Olha para o céu azul, preste atenção nas pessoas.
Grita! Sei lá! Faz alguma coisa.
E se você ainda não acordar,
Fica mesmo de vegetal nessa vida anestesiada.
E eu desisto.
(É bom estar de volta.
E sentir o mundo nem caber em mim.)
terça-feira, agosto 10
sábado, junho 5
vontade
nem sei o que e nem porque,
só vontade de querer.
"Não te quero senão porque te quero
e de querer-te a não querer-te chego
e de esperar-te quando não te espero
passa meu coração do frio ao fogo.
Te quero só porque a ti te quero,
te odeio sem fim, e odiando-te rogo,
e a medida de meu amor viageiro
é não ver-te e amar-te como um cego.
Talvez consumirá a luz de janeiro
seu raio cruel, meu coração inteiro,
roubando-me a chave do sossego.
Nesta história só eu morro
e morrerei de amor porque te quero,
porque te quero, amor, a sangue e a fogo. "
(Pablo Neruda)