quarta-feira, janeiro 26

Ausência

Hoje eu acordei com borboletas revoltadas no estômago e um grito forte preso na alma. Quis sumir! Pensei em me trancar em casa, ou ir andando para sempre na direção do vento, assim como uma sacola de plástico que se deixa levar, se deixa cair, se deixa levantar. - Não! mas eu não me permito mais cair. Melhor então seria seguir os fios dos postes até que desaparecessem e não houvessem mais postes. E nesse lugar tudo seria escuro, e no escuro eu seria só luz, não seria mais carne. No escuro sentiria a ausência acariciar a minha alma. E assim eu percebi! eu quero mesmo é comer a ausência, assim como plantas comem a luz. Quero mastigá-las, sentir seu gosto azedo até que me cortasse a língua. Quero engoli-la, me alimentar dela, sobreviver dela. Levá-la de mim para mim mesma. Mas ausência só existe quando antes existiu algo, ausência é como o ar que agora ocupa a fresta do que ficou. Primeiro se come o que se tinha, para depois se viver dela, como se fosse uma sobremesa amarga e fria. Comi o que eu tinha numa fome visceral, entregue, sem medo! E agora como a ausência, mas sinto-a cada vez de gosto mais fraco, mais pálido. E assim me sinto só, como se a ausência alguma vez fosse parte. Como se ausência preenchesse. Ausências poderiam se chamar fantasmas.




2 comentários:

cantoderoda disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
cantoderoda disse...

A ausência só é se já existiu algo naquele vazio. É a prova do não medo, do mergulhar e sentir, seja o que for. É o resultado ruim da aventurança, do alçar da alma, do ser pássaro. É amargo, mas muito melhor que não sentir o gosto...