quinta-feira, agosto 26

Quando o dia vira poesia

Gosto de andar de ônibus, acho bonito tantas pessoas, vindo e indo para tantos lugares.
Gosto as vezes de me colocar em outro plano, ser invisível e só observar.
E assim foi meu dia, ônibus e mais ônibus.
Acordei pegando de Jardim Camburi para Jardim da Penha, bonito passar na praia de manhã e ver a galera correndo. Pensei: "Um dia eu ainda vou ser assim." Eu sei que talvez nunca consiga, invejinha boa. Queria gostar de acordar cedo, mas para isso vou precisar de umas 3 vidas para acertar. Essa não vai dar tempo, tenho certeza.

O segundo foi de Jardim da Penha para rodoviária. Sentei na frente, com preguicinha de passar roleta com malas. E vi um menino tão lindo, deveria ter uns 7 anos, mas a forma adulta que ele cuidava da vó dele me surpreendeu, pagou ao trocador, conversou que ia ficar na frente para cuidar da vó, e lá ficou abraçado, perguntando se tava tudo bem, pegando na mão dela para descer do ônibus.

Fiquei observando o trocador, para ver se ele ia girar a roleta, ou ficar com o dinheiro. Quis que ele ficasse, achei que faria mais diferença no bolso dele, do que da empresa do ônibus. Mas assim que o menino desceu do ônibus, ele girou a roleta. Num sei porque, não deveria, mas achei triste.

Fiquei uns 20 minutos na rodoviária atoa. Tinha um doidinho fazendo malabarismo para ele mesmo de público, ele se divertia tanto jogando as bolinhas para todos os lados.
Senti pena, mas é coisa da minha cabeça condicionada. Olha só, já escrevi doidinho lá em cima. Doidinho eu ou ele?

Enquanto isso, distraída que eu tava olhando.
Vem uma criança e me dá uma tapa na cabeça. Olhei para trás, e ele tava com aquela cara mais porca do mundo rindo e a mãe dele pedindo desculpas para mim. E que criança com olhos lindos. Me deu vontade ter olhos lindos e felizes assim no meu dia- a-dia. Essas coisas não tem como descrever, limpam a alma.

Entrei no pretti (ônibus para Santa Maria), dormi com aquele toque de celular, que as pessoas acham que a gente é obrigado a achar ótimo. Parece que o mundo tem o mesmo gosto musical. Me senti esgoísta, coloquei os pés para cima e dormi. Nem sei se alguém precisou de lugar. Mas me senti bem, quando olhava a paisagem, entre os apagões.

Chegando na rodoviária de Santa Maria, precisei de ligar para meu pai me buscar, e tava sem celular, pedi uma senhora, com a maior cara de pau, para me emprestar.
Tentei ligar a cobrar e não consegui, ela mandou eu ligar normal e disse para eu ir andando com ela até o onibus, já que ela tava atrasada.
Falei com meu pai, entreguei e agradeci.
E ela me surpreendeu falando que era um prazer me emprestar o celular. Que ela tinha gostado de mim.
Me senti muito bem, acho que desacostumei com a gentileza das pessoas, achei que ninguém mais sentia prazer em emprestar coisas.
Fiquei feliz. Muito feliz. De ainda conseguir vêr isso.

Mas enfim... fui para Santa Tereza, tive alta e ganhei meu pé para mim de novo (mas isso é outro post) lanchei bonitinho com meu pai.

E fiquei pensando como é bonita essa rede personagens urbanos. De pessoas que nem se conhecem, mas constroem juntos cidades, que se relacionam, que fazem parte,
que se ajudam, mesmo sem saber. Até mesmo com um olhar.
me senti bem, de fazer parte disso, e deu vontade conhecer mais. Quis saber de onde vem essas pessoas, o que fazem. E como participam dessa rede.
Será que cada nó é um encontro? Será que a gente guarda mesmo sem saber, um pouquinho de cada um na gente? Será que como somos todos? onde em mim ficou o menino com sua vó, o malabarista, ou a senhora do celular?
Alguém já disse que a vida é a arte do encontro. Eu acredito. E acho que a gente é feito de olhares, de lições diárias, de personagens urbanos.
Mas aonde? Será que mesmo esquecendo disso, vai ficar em mim?

Desculpa o post prolixo, precisava de registrar aqui. Medo de esquecer e tentativa de entender. Talvez daqui algum tempo eu ache essas coisas todas.

2 comentários:

Renan Grisoni disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Renan Grisoni disse...

são dias de mudanças...mudar de vida, de referência, de visão, de moradia... ser deslocado para um outro trem. Tudo muda, enriquece o repertório. É aquele antigo artista que surpreende com novas e lindas canções. Bonitas percepções de um novo ângulo no seu texto, nostalgia precoce, saudade do futuro.