quarta-feira, fevereiro 2

2 de fevereiro

Sentidos. Pense em todos entorpecidos ao mesmo tempo. Pense no som do tambor, da voz vermelha de fé daquelas pessoas de branco, cantando junto com o barulho das ondas. Pense no cheiro azul das flores, do incenso. Pense em ver o mar numa composição que parece que foi feita para ela- maré baixa, que deixava no lugar da água, aquela textura de rio que permeia a terra. Pense nessa textura coberta com conchas, flores, e lá no fundo gente cheia de sonhos com água até os joelhos, vivendo no tom pleno. Pense no pé descalço sentindo a areia molhada. Pense em não pensar em nada, só sentir tudo isso numa sinergia absurda com a noite, com o mar.

Pouco sei sobre Iemanjá, talvez seja por ter sido criada no interior, ou por falta de caminhos que me levassem até ela. Mas de qualquer forma sempre vou até a sua festa, mas nenhuma vez senti com tanto amor como hoje. E é disso que quero falar, não é de crença, nem de religião. Quero falar de sentimento, dessas coisas que arrepiam a gente, entram pelos poros e falam no ouvido porque estamos vivos.

Senti isso na minha alma, e na caminhada de volta para casa percebi porque dessa vez foi mais forte. Foi culpa de um mar, que nunca foi tão parte de mim como nesse último ano. Vivi o mar se fazendo abrigo, aconchego, afago em horas que só eu mesma não bastava. Vi o mar se fazer cura, terapia, remédio em momentos que eu achava que ia morrer de dentro para fora. Vi no horizonte o tamanho de uma vida, o tamanho de um planeta e sai de dentro do raio ridículo de um palmo de mim. Também vi o mar se fazer fuga, e me tirar do tédio de uma claustrofobia doente. No mar eu vivi um lugar de encontro e de reconstrução de mim mesma.

Agora me alimento de sua energia, e assim percebi que talvez Iemanjá esteja nessa energia, se diluindo com a água sua proteção e cura. Senti uma vontade imensa de abraçar isso tudo e de agradecer. Parei no caminho com uma rosa na mão e agradeci baixinho ao mar. Agradeço grande parte do que eu sou agora, a ele.





3 comentários:

Caetano disse...

mamãe que abraça e protege com seu manto.

lindo

ana f. disse...

quando eu era pequena, minha vó me falava que a rainha do mar era iemanjar, e eu achava o máximo o nome dela rimar com o nome de seu reino; só depois de grande descobri que não tinha esse r no final. antes era melhor.

Samira Proêza disse...

melhor deixar o "r", para não perder o encanto. Iemanjar é um nome bonito mesmo pra rainha do mar.